InforMEI – Há poucas semanas, foi apresentado ao mundo o protótipo do eVTOL – o carro voador elétrico da Embraer. Qual a expectativa de personificarmos os Jetsons ao dispor desse meio de transporte totalmente disruptivo e, eventualmente, autônomo para nos deslocarmos pelas grandes cidades?

Daniel Moczydlower – Temos avançado de forma considerável no desenvolvimento do eVTOL, realizando testes físicos em escala e em simulador de voo. Para isso, criamos a EVE, a primeira “spin-off” da EmbraerX, que se tornou uma empresa independente e dedicada a acelerar o desenvolvimento do ecossistema de Mobilidade Aérea Urbana (UAM). É, de fato, uma visão disruptiva, e acreditamos que até o fim da década este novo modal de transporte estará operando com segurança em diversas metrópoles ao redor do mundo.

A necessidade de se locomover rapidamente nos grandes centros urbanos cresce a cada dia. Por isso, acreditamos que o mercado de UAM tem um enorme potencial. Podemos citar como exemplo o helicóptero, que hoje está presente nas grandes cidades, mas é caro e barulhento. A proposta da eVTOL é estabelecer um novo paradigma para o transporte em áreas urbanas que seja mais acessível, silencioso, sustentável e barato.

Importante destacar que a EVE é uma integradora do ecossistema. Ou seja, além do desenvolvimento do eVTOL, também desenvolve um software de gerenciamento de tráfego aéreo e um negócio de serviços e suporte. Os produtos e serviços são projetados para serem completamente independentes, mas quando combinados fornecem uma solução de mobilidade aérea urbana completa para os clientes e parceiros.

InforMEI – O Gerenciamento do Tráfego Aéreo Urbano (UATM, na sigla em inglês) apresenta a visão da Embraer para um sistema de gerenciamento voltado à mobilidade aérea urbana do futuro. A inserção de um produto como esse no mercado certamente traz desafios em termos de regulação. O marco regulatório brasileiro está preparado para receber e lidar com esse tipo de tecnologia?

Daniel Moczydlower – A proposta de gerenciamento de tráfego aéreo urbano da Eve é diferenciada, com um portfólio de serviços que busca criar um ambiente operacional mais favorável, de forma a integrar com segurança um volume crescente de veículos no espaço aéreo. Nossa solução prioriza uma abordagem baseada em procedimentos para aumentar as operações, enquanto minimiza os impactos no controle de tráfego aéreo convencional. Este conceito foi desenvolvido com um olhar atento às necessidades da comunidade e aos princípios do design centrado no ser humano.

O Brasil possui muita experiência com a atual operação de helicópteros na região metropolitana de São Paulo – que é uma das operações de tráfego aéreo urbano mais sofisticadas do mundo. Além disso, a principal base da engenharia e tecnologia da Embraer está no Brasil e, com a Eve, não será diferente. Teremos uma subsidiária no Brasil que será a responsável pela concepção e desenvolvimento das soluções, trabalhando sempre em parceria com a própria Embraer e com empresas do grupo Embraer como a Atech, desenvolvedora do sistema de controle de tráfego aéreo brasileiro.

Além disso, São Paulo é hoje o maior mercado de táxi aéreo do mundo, com aproximadamente 1.300 operações diárias no espaço aéreo urbano. O Grupo Embraer participou do desenvolvimento da tecnologia e dos procedimentos que permitiram criar essa solução de circulação aérea em São Paulo junto com a Força Aérea Brasileira, que é uma referência para outros pioneiros na indústria de mobilidade aérea urbana.

Além disso, São Paulo é hoje o maior mercado de táxi aéreo do mundo, com aproximadamente 1.300 operações diárias no espaço aéreo urbano. O Grupo Embraer participou do desenvolvimento da tecnologia e dos procedimentos que permitiram criar essa solução de circulação aérea em São Paulo junto com a Força Aérea Brasileira, que é uma referência para outros pioneiros na indústria de mobilidade aérea urbana.

InforMEI – A EmbraerX foi criada como braço de inovação disruptiva da Embraer. Ao enfrentarmos um segundo ano consecutivo de crise global causada pela pandemia e suas consequências, quão importante é manter – e até ampliar – investimentos em inovação, pesquisa e desenvolvimento como forma de sobrevivência e superação de crise?

Daniel Moczydlower – A Embraer é uma das mais inovadoras empresas do Brasil e conta com uma das maiores forças de engenharia do mundo. Em 2020, 43% da nossa receita foram provenientes de inovações que ocorreram nos últimos cinco anos. Isso comprova a importância de se manter investimentos contínuos em inovação, principalmente em momentos de crise. A Embraer manteve, na última década, uma média de investimento equivalente a 6% da receita anual em pesquisa e desenvolvimento. Já o cenário atual é um estímulo à busca por novas formas de inovação, seja para obtenção de financiamentos, parcerias estratégicas ou novas maneiras de se fazer negócios, de forma a favorecer a diversificação e a conquista de novos mercados. 

InforMEI – Há quase um ano, a CNI firmou parceria inédita com o SOSA – empresa global de inovação aberta –, que oferece às indústrias brasileiras oportunidades de acessar tecnologias de ponta para responder a desafios com maior rapidez, estimulando projetos de inovação aberta. Qual o papel da inovação aberta na Embraer e como essa parceria pode influenciar o ecossistema de inovação brasileiro?

Daniel Moczydlower – A Embraer trabalha com inovação aberta e desenvolvimento tecnológico pré-competitivo em todas as suas áreas de atuação, não se limitando ao desenvolvimento de aeronaves, mas também na inclusão de sistemas complexos para a indústria aeroespacial, mobilidade e avanços tecnológicos. Talvez sejamos uma das empresas do setor aeronáutico global que mais abraça o conceito, com apoio a startups, e promove protagonismo dos hubs de inovação em locais que temos atuação direta. Entendemos que temos uma série de competências e conhecimentos que podem ser trocados no ecossistema de inovação e o fomento dessas iniciativas é fundamental para influenciar a cultura de inovação no Brasil.

InforMEI – Na sua visão, como a MEI, pode contribuir ainda mais para o aprimoramento e fortalecimento do nosso ecossistema de inovação, a fim de ampliarmos cada vez mais o investimento privado em P&D no Brasil?

Daniel Moczydlower – O Brasil tem avançado no marco legal de inovação, com o aprimoramento de uma série de políticas públicas de incentivo ao tema. Mas ainda temos muitas oportunidades para avançar nos rankings globais de inovação, como o Global Innovation Index. Há muito trabalho para ser feito para estimular a competitividade da nossa economia e gerar mais riquezas por meio do nosso potencial de inovar. Nesse sentido, a articulação da MEI tem sido fundamental para estabelecer conexões e promover o diálogo entre os principais atores do ecossistema (indústria, instituições de ensino e pesquisa, Governo), para diagnosticar onde estão os desafios e oportunidades. Nossos avanços dependem de propostas de melhorias em políticas e iniciativas coordenadas de alto impacto em múltiplos setores da indústria nacional.

InforMEI – O debate sobre redução da emissão de carbono ganha cada vez mais força no cenário internacional, à medida que os países estabelecem metas ambiciosas até 2030. Qual o impacto dessas medidas na Embraer? Há desafios tecnológicos a superar para que os aviões da empresa atendam às normas cada vez mais exigentes ao redor do mundo?

Daniel Moczydlower – Somos uma das primeiras empresas na indústria a adotar normas avançadas de gestão ambiental e socialmente responsáveis. Nossa atuação é ativa e histórica na redução de emissões. Certificamos o Ipanema como a primeira aeronave movida 100% a etanol e produzida em série desde 2004. Existem hoje mais de 550 motores a etanol em operação com mais de 3 milhões de horas de voo que preveniram a emissão de 332 mil toneladas de CO2. Já a atual família de aeronaves E-Jets E2 reduz até 25% as emissões de carbono por assento, comparando-se com a geração anterior.

O nosso setor tem metas estabelecidas e temos iniciativas concretas para atender o compromisso do setor de reduzir em 50% as emissões até 2050 comparado aos níveis de 2005. Para isso, acreditamos e investimos na inovação aberta e colaborativa como medida essencial para acelerar as soluções necessárias à redução das emissões de carbono. Um exemplo é o nosso avião demonstrador de tecnologia de propulsão 100% elétrica que conta com a colaboração da WEG e EDP para o desenvolvimento.

Além disso, estamos investindo em novas tecnologias de propulsão, materiais entre outras inovações que estarão presentes em novos projetos que a empresa estuda hoje, como um avião turboélice de nova geração que seja mais eficiente, o eVTOL com sistema de propulsão 100% elétrico e o STOUT, avião de transporte militar leve com propulsão híbrido-elétrica.

*Daniel Moczydlower é presidente e CEO na EmbraerX; VP de Inovação, Transformação Digital e Desenvolvimento de Novos Negócios na Embraer