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O que é Neoindustrialização?

A neoindustrialização é o processo de modernização e evolução da indústria, enfatizando inovação, compromisso ambiental e integração com cadeias produtivas internacionais.

O que é neoindustrialização?

A neoindustrialização é o processo de modernização e evolução da indústria, enfatizando inovação, compromisso ambiental e integração com cadeias produtivas internacionais.

Ela está inserida em um contexto global de políticas industriais modernas, muitas vezes orientadas por missões, que são estratégias que buscam trazer respostas aos grandes desafios de nossa sociedade, como o combate às mudanças climáticas ou acesso à saúde de qualidade. Esse conceito contrasta com as políticas do passado que muitas vezes partiam da escolha de setores ou de empresas específicas.

Neoindustrialização e a indústria brasileira

Historicamente, o Brasil passou por diferentes fases de desenvolvimento industrial, com períodos de expansão e estagnação. A neoindustrialização surge como uma abordagem de renovação e fortalecimento da indústria brasileira e de fomento do desenvolvimento econômico e social do país.

Embora represente 23,9% do PIB, a indústria responde por:

  • 69,3% das exportações brasileiras de bens e serviços
  • 66,4% do investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento
  • 34,4% da arrecadação de tributos federais (exceto receitas previdenciárias)
  • 27,2% da arrecadação previdenciária

A cada R$ 1,00 produzido na indústria, são gerados R$ 2,44 na economia brasileira.

A neoindustrialização busca reverter a acentuada desindustrialização das últimas décadas e aumentar a competitividade da indústria nos mercados nacionais e internacionais, tornando-a mais inovadora, eficiente, sustentável e integrada ao comércio internacional. Esse conceito está ligado a esforços para impulsionar o crescimento econômico sustentado e criar empregos de qualidade no Brasil.

São pontos fundamentais para o processo de neoindustrialização:

1 - Tecnologia: investimentos em tecnologia e inovação para aumentar a eficiência da produção, além da adoção de tecnologias habilitadoras da Indústria 4.0, como a Internet das Coisas (IoT), a inteligência artificial (IA) e a automação, para melhorar a eficiência e a competitividade da indústria brasileira em escala global.

2- Estrutura Industrial: busca pela maior participação de setores de maior complexidade, mais intensivos em tecnologia, em geral, produtores de bens de capital ou de consumo duráveis, que respondam aos desafios atuais da sociedade.

3- Qualificação da força de trabalho: investimentos em educação, treinamento e requalificação. A mão de obra brasileira precisa estar apta para trabalhar em indústrias modernas e tecnologicamente avançadas.

4 - Políticas industriais: implementação de políticas públicas que busquem promover o desenvolvimento industrial a fim de atender aos desafios da sociedade, focadas em ciência, tecnologia e inovação para aumentar a integração ao mercado internacional e responder às megatendências mundiais.

5 – Sustentabilidade e responsabilidade social: no mundo há crescente ênfase na sustentabilidade e na responsabilidade social das indústrias. Empresas estão adotando práticas mais sustentáveis e éticas em suas operações, alinhadas com uma economia de baixo carbono.

6 - Integração global: fomentar a integração da indústria brasileira nas cadeias de valor globais, facilitando a exportação de produtos e a importação de tecnologias avançadas.

O caminho do Brasil rumo à neoindustrialização

Nos últimos anos, a economia brasileira enfrentou um processo de desindustrialização acelerada e de primarização da pauta de exportações, com o aumento da importância das commodities. No entanto, líderes e especialistas têm apontado para o potencial do Brasil em se tornar um player global na economia verde. O país possui vantagens geográficas, recursos naturais abundantes e uma matriz energética diversificada, que podem ser alavancados para impulsionar a neoindustrialização.

Na reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) realizada em 6 de julho de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assegurou que o governo criará condições para que haja investimento em inovação e que possibilite uma nova “revolução industrial”, combinando sustentabilidade e inclusão. Segundo Lula, em quatro anos, serão investidos R$ 106,16 bilhões — com recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

No mesmo encontro, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, atestou que há, da parte dos integrantes do CNDI, um grande empenho para conter a desindustrialização precoce e fazer o Brasil voltar a criar empregos. De acordo com o vice-presidente, a combinação de fatores como o câmbio competitivo e a reforma tributária são favoráveis ao desenvolvimento econômico e social.

Ações que podem promover a neoindustrialização no Brasil

A neoindustrialização representa uma importante oportunidade para o Brasil redefinir sua trajetória econômica e social. Ao alinhar-se às demandas globais por produtos mais limpos e sustentáveis, o país pode não apenas revitalizar sua indústria, mas também posicionar-se como líder global em inovação e sustentabilidade.

Confira cinco eixos para impulsionar a neoindustrialização no Brasil:

  • Economia Verde: a transição para uma economia verde é vista como uma oportunidade estratégica para o Brasil. A produção de bens mais sustentáveis, como fertilizantes sustentáveis, biogás, etanol, hidrogênio verde e baterias elétricas limpas, pode posicionar o país como líder global em sustentabilidade. O país também tem grande potencial para atrair plantas industriais em busca de energia limpa, segura, barata e abundante, considerando a corrida mundial para reduzir as emissões de carbono e combater o aquecimento global.
  • Inovação e Tecnologia: foco na inovação e na adoção de tecnologias avançadas. O Brasil já tem iniciativas em andamento, como o Brasil Mais Produtivo, Centros de Tecnologia e linhas de crédito voltadas à inovação e adoção de novas tecnologias da Indústria 4.0. É necessário o acompanhamento e estímulo dessas políticas, alinhadas com os objetivos das missões definidas pelo governo.
  • Políticas Públicas e Investimentos: Adoção de políticas industriais com visão sistêmica, com foco na ciência, tecnologia e inovação e que busquem resolver os desafios da sociedade, com direcionamento dos investimentos para esses problemas, aliadas ao combate do Custo Brasil.
  • Rearranjo das cadeias globais de valor: aqui entra o conceito de "powershoring", que se refere à relocalização de cadeias produtivas globais para países com fontes abundantes de produção de energia limpa, como é o caso do Brasil. O país pode aproveitar essa oportunidade aberta pela corrida mundial para reduzir as emissões de carbono e combater o aquecimento global, para atrair investimentos e aumentar sua integração às cadeias globais de valor.
  • Parcerias e Diálogo: a colaboração entre o setor público e privado é essencial para o sucesso da neoindustrialização. Instituições como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) têm desempenhado um papel crucial no fomento ao diálogo e na construção de parcerias estratégicas.

Plano de retomada da indústria

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) detalhou no Plano de Retomada da Indústria, compartilhado com o governo brasileiro, uma proposta de política industrial moderna e sustentável, orientada por missões, que buscam responder aos grandes desafios de nossa sociedade. A estratégia é estruturada em quatro grandes missões prioritárias para o país: Descarbonização, Transformação Digital, Saúde e Segurança Sanitária e Defesa e Segurança Nacional. O plano também traz 60 ações transversais para melhorar o ambiente de negócios e a competitividade da indústria brasileira.

Quais os desafios para a neoindustrialização no Brasil?

A indústria brasileira enfrenta desafios que vão além da implementação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento industrial,  que dizem respeito aos problemas econômicos e institucionais que aumentam os custos de se operar no Brasil. Políticas industriais bem planejadas, mecanismos de facilitação do comércio exterior, investimentos em infraestrutura, educação e P&D, e reformas regulatórias são algumas das medidas que podem ajudar a enfrentar esses desafios, reduzindo o Custo Brasil. Superar esses desafios requer esforços coordenados entre o governo, o setor privado e outros stakeholders para criar um ambiente propício ao desenvolvimento econômico sustentável e à inovação no Brasil.

O estudo Competitividade Brasil, elaborado pela CNI, deixa clara a falta de competitividade do país em diversos fatores quando comparado com 18 outros países selecionados. Os mais graves são em relação ao financiamento, onde as taxas de spread de juros estão entre as mais altas do mundo e à alta complexidade da tributação. Ainda, a infraestrutura e logística, o ambiente macroeconômico e o ambiente de negócios deixam o país entre os últimos países na comparação.

A CNI sempre levantou a bandeira da redução do Custo Brasil. O Plano de Retomada da Indústria elaborado pela CNI listou ações que contribuirão para o setor produtivo voltar a se desenvolver e criar empregos, caso sejam adotadas. Além disso, o governo brasileiro precisa rever a alta e complexa carga tributária, pois impacta negativamente na competitividade das empresas, dificultando os investimentos em inovação e expansão. A Reforma Tributária em discussão, que pretende simplificar um dos sistemas tributários mais complexos do mundo, é essencial para tornar o país mais atrativo aos investimentos, além de ser complementar às outras políticas voltadas à neoindustrialização.

Outro desafio a ser superado é a expansão de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). De acordo com dados da UNESCO, o país utilizou 1,17% do PIB em 2020 para P&D, enquanto a média para países de renda média alta como o Brasil, ficou em 1,73% para o mesmo ano.

Pesquisa realizada pelo ManpowerGroup apontou que a falta de mão de obra qualificada no Brasil atingiu a marca de 81% em 2022 – a média global é de 75%. De acordo com a CNI, até 2025, o Brasil precisará qualificar 9,6 milhões de pessoas em ocupações industriais, sendo 2 milhões em formação inicial e 7,6 milhões em formação continuada.

A produtividade da indústria ainda é relativamente baixa em comparação com outros países industrializados, dificultando a competitividade no mercado global. Entre 2019 e 2021, por exemplo, a produtividade do trabalho efetiva - que compara a produtividade da indústria brasileira com a média de seus 10 principais parceiros comerciais - caiu 9%. mostrou o estudo Produtividade na Indústria. Melhorar esse fator é determinante par impulsionar a competitividade do setor globalmente.

Por fim, o Brasil ainda apresenta infraestrutura insuficiente que dificulta o crescimento do país. Melhorar a infraestrutura é essencial para expandir a produção e elevar a capacidade competitiva da indústria.  O caminho para modernizar a infraestrutura brasileira é longo. De acordo com a CNI, é preciso alcançar os aportes na área para um patamar mínimo de 4,15% do PIB, o equivalente a R$ 274 bilhões.