CNI defenderá diversificação da matriz energética na conferência internacional do clima

Brasil deve estimular os investimentos na diversificação da matriz energética

O potencial brasileiro de geração hídrica está estimado em 260 mil MW. Desse total, pouco mais de 30% está sendo explorado

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) defenderá, durante a 20ª Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP-20), que o Brasil deve estimular os investimentos na diversificação da matriz energética. As propostas, contidas no documento Ambiente energético global e suas implicações , já entregue ao governo, serão apresentadas em reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, que ocorrerá nesta quinta-feira (11), às 15h30, em Lima, no Peru. Participarão da mesa a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Shelley Carneiro, o Secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Augusto Klink, entre outros.

Estudo da Agência Internacional de Energia (AIE) indica que a demanda mundial por energia crescerá 30% até 2035, com as economias emergentes respondendo por 90% desse aumento. Com o intuito de alinhar a política energética aos desafios decorrentes das mudanças climáticas, a CNI propõe o aumento dos investimentos e a definição de políticas de incentivo à produção e ao consumo de energias renováveis.  Além disso, a instituição defende incentivos ao uso de tecnologias e processos mais eficientes para redução de emissões de gases de efeito estufa em setores que utilizam, por exemplo, derivados de petróleo e carvão.

AÇÕES POSITIVAS - De acordo com Shelley Carneiro, embora o setor industrial não esteja entre os maiores emissores de CO2 no Brasil, o segmento tem se comprometido em debater alternativas para reduzir as emissões. “Nesse sentido, as discussões de opções de oferta e consumo de diferentes fontes de energia, do país e das indústrias, poderá ser um ponto de partida para promover as mudanças no sentido de reduzir as emissões”, destaca.

A diretora de Relações Institucionais da CNI, Mônica Messenberg, diz que o principal instrumento utilizado para contratação de nova capacidade de geração de energia elétrica são os leilões de energia elétrica, realizados desde 2005. Foram contratados, até hoje, 65 mil MW de nova capacidade, com um investimento de aproximadamente R$ 800 bilhões em contratos. “Com isso, temos uma diversificação de tecnologias que incluem hidrelétricas, eólicas, cogeração a biomassa e usinas termelétricas que utilizam variados insumos”, complementa. “No entanto, a atual situação de disparidade dos custos de geração entre as diversas fontes de energia elétrica requer um aprimoramento na política setorial com vistas a privilegiar a diversidade, a maior segurança da geração na base do sistema e as estratégias de longo prazo.”

ÁGUA – Em relação à energia hídrica, principal fonte de geração energética no Brasil, a CNI propõe um detalhado mapeamento dos impactos potenciais do aquecimento global sobre o padrão da vazão dos rios e a revisão dos inventários de potencial hidrelétrico para identificar projetos de usinas em que a possibilidade de reservatórios maiores foi descartada sem uma discussão técnico-econômica e energética mais abrangente com a sociedade.

O potencial brasileiro de geração hídrica está estimado em 260 mil MW. Desse total, pouco mais de 30% está sendo explorado, incluindo as usinas em construção e cuja concessão já está outorgada. Dos 126 mil MW de potencial economicamente viável ainda não explorado, 70% estão nas bacias do Amazonas e do Tocantins-Araguaia. Esses novos empreendimentos enfrentarão restrições ambientais para construção de reservatórios na Amazônia Legal. Visando garantir a segurança na geração e a sustentabilidade da energia, torna-se necessária a inclusão de outras fontes renováveis na matriz, como a biomassa, a eólica e a solar, em maior intensidade.

OUTRAS FONTES

BIOMASSA - O Brasil possui um enorme potencial de geração de energia por meio da biomassa. No entanto, o quadro atual é de perda de destaque do país na área. Para reverter esse quadro, a CNI sugere restaurar o espaço do etanol no mercado, remover entraves econômicos para a participação da cogeração com bagaço de cana na produção de energia elétrica e estimular e apoiar os esforços que recuperem o interesse mundial nos biocombustíveis.
 

O estudo da CNI mostra que o potencial de energia está em torno de 350 mil MW

ENERGIA EÓLICA - No caso de fonte eólica, o estudo da CNI mostra que o potencial de energia está em torno de 350 mil MW e há condições favoráveis para esse tipo de geração, principalmente, devido ao litoral que se estende por 8 mil quilômetros e que apresenta ventos com pouca sazonalidade.

No entanto, a maior inserção da energia eólica na matriz depende do papel exercido pelas fontes hídricas no campo gerador, já que os reservatórios das hidrelétricas funcionam como “armazéns energéticos”. Isso quer dizer que os reservatórios hidrelétricos podem equalizar a distribuição de energia com outras fontes, como a eólica, pelo acúmulo de água que pode ser usada para geração de energia em maior ou menor proporção, dependendo da carga de energia gerada por outras fontes.

ENERGIA SOLAR - O Brasil também possui um elevado potencial para a geração de energia solar, e começa a dar os primeiros passos para tentar consolidar essa fonte como uma alternativa real. Um exemplo foi o leilão para energia de reserva, realizado no último dia 31 de outubro, que possibilitou a contratação de vários empreendimentos solares com custo abaixo do previsto. Além disso, a geração distribuída no Brasil conta com uma regulamentação que garante a adoção dessa tecnologia por qualquer consumidor de energia. Os desafios são os elevados custos dos equipamentos de geração e o elevado tempo de retorno para os investimentos. Para isso, a CNI propõe incentivo fiscal para aquisição de equipamentos, bem como a desoneração fiscal dos investimentos para as empresas que produzem os equipamentos para a geração distribuída.

GÁS NATURAL - Já em relação ao gás natural, a CNI considera urgente que o Brasil estabeleça uma política específica para estimular novos investimentos nessa fonte. Com a consolidação do gás de xisto no mercado dos Estados Unidos, haverá uma mudança significativa no mercado mundial de energia. O Brasil dispõe de reservas de gás não convencional consideráveis, chegando a 6,9 trilhões de metros cúbicos, segundo a AIE, a décima maior reserva tecnicamente recuperável do mundo. Um dos entraves para a consolidação do gás natural como insumo estratégico é a limitação na concorrência no mercado doméstico, uma vez que predomina o monopólio da Petrobras. Para tornar o gás uma fonte economicamente viável, a CNI propõe equacionar o livre acesso à rede de gasodutos de transporte e escoamento e estruturas de beneficiamento. A CNI também defende a necessidade de realizar estudos aprofundados sobre a competitividade do gás de xisto no país.

PROPOSTAS DA INDÚSTRIA – O estudo Ambiente energético global e suas implicações para o Brasil integra o documento Propostas da Indústria para as Eleições 2014 . Elaborado pela CNI, o documento reúne 42 estudos com recomendações sobre os principais temas da agenda da indústria para o desenvolvimento do país nos próximos anos. Ao longo de mais de nove meses, a CNI promoveu debates, reuniões e consolidou propostas em conjunto com dezenas de especialistas, consultores e representantes das associações setoriais da indústria e das federações estaduais.

Todos os projetos foram elaborados com base no Mapa Estratégico da Indústria 2013-2022 , que estabelece as ações necessárias para fazer o Brasil crescer mais e melhor. Assim como o Mapa, as propostas aos presidenciáveis são divididas em dez fatores-chave: educação; ambiente macroeconômico; eficiência do Estado; segurança jurídica e burocracia; desenvolvimento de mercados; relações de trabalho; financiamento; infraestrutura; tributação; inovação e produtividade. Com a carteira de projetos, a CNI pretende ajudar o governante eleito a aumentar a competitividade da indústria e do Brasil.

SAIBA MAIS:
Evento: reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas na COP-20
Quando: 11 de dezembro, às 15h30
Local: Quartel General do Exército – Porta de Ingresso nº 4 – Av. Velasco Astete s/n, sala Paracas – San Borja - Lima

 

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