Escolas brasileiras não formam jovens para o mercado de trabalho

Com o objetivo de mudar essa realidade, a CNI anunciou, nessa quarta-feira (29), o lançamento do projeto Educação para o Mundo do Trabalho

O sistema de educação brasileiro prepara os estudantes como se eles fossem para a universidade. Mas, hoje, apenas 17% deles conseguem uma vaga no ensino superior. Os outros interrompem os estudos sem ter sequer uma hora de aula preparatória para ocupar um emprego. O resultado desse despreparo para o mercado de trabalho é que o Brasil convive com um baixo índice de produtividade, que chega a ser metade do registrado na Coreia do Sul e cinco vezes menor que nos Estados Unidos.

De acordo com o professor da Universidade de São Paulo (USP) José Pastore, essa baixa produtividade força as empresas a repassarem seus custos para os preços, elevando a inflação. “O setor de serviços, que tem pior produtividade, é também o que mais sobe os preços”, relacionou Pastore.

É essa realidade que a CNI vai tentar mudar com a mobilização Educação para o Mundo do Trabalho, anunciada nessa quarta-feira (29) durante o seminário Diálogos para o Mundo do Trabalho. O evento – aberto pelo presidente Robson Braga de Andrade (foto acima) – terá edições estaduais nos próximos meses. Um documento base será discutido em todos os estados, com o objetivo de consolidar metas a curto prazo.

No Mapa Estratégico da Indústria, lançado em 21 de maio, o setor se propôs a ocupar um lugar expressivo na produção mundial de manufaturados até 2022. “A educação assume um papel primordial nesse processo. Nas consultas aos empresários para a elaboração do documento, o tema foi apontado como o principal insumo para o crescimento e a competitividade do país”, destacou Robson Braga.

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - Para o diretor de Educação e Tecnologia da CNI, Rafael Lucchesi, a saída mais rápida para ter ganhos de produtividade está na educação profissional. Somente 6% dos jovens brasileiros optam por cursos técnicos de nível médio, enquanto a média nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) supera os 40%.

“Ao formar jovens como se todos fossem para a universidade, o sistema educacional brasileiro repete uma lógica elitista. A educação é um caminho no sentido da cidadania para a juventude, para a geração de riquezas e para a competitividade”, destacou Lucchesi. “A educação profissional se conecta com a agenda de transformação do Brasil”, acrescentou.

O presidente do Movimento Todos Pela Educação, Mozart Ramos, acredita que talvez seja necessário que os empresários coloquem a educação num outro patamar de importância. Ramos, que também integra o Conselho Nacional de Educação, defende a criação de uma Câmara Institucional Intersetorial, na qual diversos setores da sociedade possam discutir e decidir sobre questões como a falta de diálogo entre a formação e a demanda do setor produtivo.

“Os empresários precisam formar um grupo de pressão mais forte para melhorar o sistema educacional”, avaliou Rafael Lucchesi, ao lembrar que não apenas mais recursos são necessários. Seria preciso também melhorar a gestão. “É possível pedir mais do sistema que temos hoje”, disse.

“Nos países onde há uma boa educação profissional, os sistemas de ensino e produtivo são extremamente integrados”, lembrou o consultor legislativo da Câmara dos Deputados Ricardo Martins. O presidente do grupo D’Paschoal, Luis Norberto Pascoal, concorda e ressalta que não é preciso ir muito longe para ter bons exemplos do sucesso dessa aproximação. “Na área da agricultura, onde os centros de pesquisa e universidades são muito próximos de quem produz, o Brasil é líder mundial. Precisamos começar a repetir esse modelo”, afirmou.

VÍDEOS - Abaixo você encontra três vídeos com momentos diferentes do evento: a abertura, com a participação do presidente da CNI Robson Braga de Andrade; a apresentação do estudo "Educação para o Trabalho", pela representante da Mckinsey & Company Cheryl Lim; e por último, o debate com os especialistas convidados.

VÍDEO 01 - Abertura

VÍDEO 02 - Apresentação do estudo "Educação para o Trabalho" 

VÍDEO 03 - Debate 

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