Falta mão de obra qualificada para indústria aeronáutica brasileira

Em 2013 foram criados 26.239 novos empregos na área de aviação, contudo oferta de mão de obra não atende à demanda por profissionais qualificados

Fernando atua na área de manutenção geral e preventiva de aeronaves em Santa Catarina

Formado no curso técnico de manutenção de aeronaves, o catarinense Fernando Kiliano é um dos ex-alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) que já atuam na indústria aeronáutica. Há três anos na empresa Total Linhas Aéreas, em Palhoça, Santa Catarina, o profissional trabalha na área de manutenção geral e preventiva de aeronaves. "É um desejo que começou quando ainda era criança. Aprendi a gostar da mecânica e, então, me dei conta que poderia unir duas paixões a fim de realizar um sonho de infância”, conta ele. 

Fernando, assim como tantos outros profissionais que trabalham com aviação, comemora nesta sexta-feira (17) os 79 anos da Indústria Aeronáutica Brasileira. Nesta data foi realizado o voo inaugural do Muniz M-7, o primeiro avião a ser produzido por uma fábrica brasileira. O biplano, destinado ao treinamento de pilotos, abriu as portas para que a indústria aeronáutica se desenvolvesse no país e passasse a fabricar aeronaves que atualmente são utilizadas em vários países do mundo. 

“As pessoas que trabalham com essa área são satisfeitas com a escolha que fazem, porque não é só uma profissão, mas sim um desejo que começa desde de criança”, afirma Kiliano. O técnico revela ainda que a concorrência é o que motiva no dia a dia. “Muita gente gostaria de trabalhar com isso, então procuro todos os dias melhorar as minhas práticas”, reforça. 

Se enganam aqueles que acreditam que apenas os homens buscam trabalhar com aviação. A paulista Tainá Cristina Silvestre, de 23 anos, diz que conhece poucas mulheres na área, mas garante que podem realizar as atividades tão bem quanto eles. “Sermos novas e mulheres deixam alguns desacreditados, e por isso temos que provar dez vezes mais a nossa capacidade. Mas, com certeza, não deixamos nada a desejar”, declara.

Em 2013 foram criados mais de 26 mil novos empregos na área de aviação no Brasil

MÃO DE OBRA – Segundo dados da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), em 2013 foram criados 26.239 novos empregos na área de aviação. Contudo, Paulo Belvedere, coordenador do curso de manutenção de aeronaves do SENAI de São Carlos, São Paulo, afirma que a oferta de mão de obra não atende à demanda por profissionais qualificados. Tal fator possibilitou que toda a turma que se formou com Tainá Silvestre, em 2013, fosse contratada pela empresa aérea TAM. “A região de São Paulo é um dos maiores polos aeronáuticos, por isso as empresas absorvem os profissionais que aqui se formam”, afirma Belvedere. 

Em Santa Catarina, o cenário não é diferente. O também coordenador Luiz Gustavo explica que a procura pelo curso é alta, mas ainda assim não consegue atender às necessidades do mercado. “As empresas estão precisando de mão de obra. Diferente do período da Copa, esse segundo semestre promete um bom aquecimento na contratação de técnicos de manutenção”. Ele afirma ainda que, na região, o salário inicial médio para esses profissionais é de R$ 2.700. 

De acordo com o professor Luiz Antônio Figueiredo, da Faculdade de Tecnologia SENAI Ítalo Bologna, em Goiânia, as empresas aéreas têm priorizado a contratação de profissionais formados pelo SENAI, já que os alunos são melhor preparados para o uso das novas tecnologias do setor e para a manutenção de aeronaves como os Airbus e Boeing. Ele afirma ainda que os alunos são contratados antes mesmo de se formarem. Ouça aqui.

NOVAS UNIDADES – Atualmente, o SENAI oferece o curso de técnico de manutenção de aeronaves em três estados: Goiás, Santa Catarina e São Paulo. Desde 2009, quando a primeira turma foi aberta, as unidades já formaram mais de 1.200 alunos, especializados em aviônicos, célula e grupo motopropulsor. Até o final do ano, a unidade de Palhoça deve reabrir o curso de piloto privado de avião e de helicóptero, sendo algumas formações oferecidas gratuitamente, por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec)

Em Campina Grande, na Paraíba, o curso de manutenção de aeronaves está sendo inaugurado hoje. O Centro de Tecnologia Aeronáutica (CTA), instalado numa área de aproximadamente 2 mil metros quadrados, é equipado com materiais de alta tecnologia. Inicialmente, seriam oferecidas 40 vagas. No entanto, a alta procura pelo curso possibilitou a abertura de uma segunda turma para o mesmo período. A lista de espera já conta com mais de 90 pessoas. 

O curso, regulamentado junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac),  será semipresencial e vai certificar alunos concluintes para que atuem na manutenção e vistoria de aeronaves. Segundo o gerente de atividades finalísticas do SENAI da Paraíba, Wagner Porto, a criação de uma nova empresa de fabricação de aeronaves de pequeno porte no estado motivou a abertura do curso. “Fizemos um levantamento que comprovou a necessidade dessa mão de obra, não só para o nosso estado, mas também para toda a região Nordeste”, explica. 

No Ceará, o Centro Integrado SESI-SENAI de Aracati vai fornecer de forma conjugada educação básica e formação profissional na área de aviônica. A previsão é que uma base da empresa aérea TAM esteja operando entre outubro e novembro para reparos e manutenção de aviões executivos de pequeno e médio portes. As aulas devem ter início em fevereiro de 2015.

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