Crescimento da economia está ligado à mobilidade nas cidades

Conclusão foi feita por empresários e especialistas durante Seminário Desafios da Mobilidade Urbana no Brasil, realizado pela CNI nesta quarta-feira (13)

“O desenvolvimento de um país está ligado ao desenvolvimento de suas metrópoles” - José de Freitas Mascarenhas

O crescimento da economia brasileira está diretamente ligado ao desenvolvimento das cidades. A qualidade deste crescimento, porém, dependerá da forma como os grandes centros urbanos enfrentarão o desafio da mobilidade urbana, nos próximos anos. O alerta foi feito por empresários, especialistas e representantes do setor público que participaram, nesta quarta-feira (13), do Seminário Desafios da Mobilidade Urbana no Brasil, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com O Globo, no Rio de Janeiro.

Os problemas de mobilidade urbana no Brasil e suas consequências para a economia das cidades, do país e para a qualidade de vida dos moradores dos grandes centros urbanos têm sido apontados pela CNI como um dos desafios a ser superado para recuperar a competitividade do país. Há um ano, por exemplo, a entidade divulgou o estudo Cidades: Mobilidade, Habitação e Escala - Um chamado à ação, para alertar a sociedade para a necessidade de se debater e encontrar soluções para os problemas urbanos.

“O desenvolvimento de um país está ligado ao desenvolvimento de suas metrópoles”, disse José de Freitas Mascarenhas, presidente do Conselho de Infraestrutura da CNI. Segundo ele, é nas grandes cidades em que ocorrem o intercâmbio econômico, a inovação e a ampliação do conhecimento. Para que isso ocorra, porém, é preciso haver um fluxo de pessoas desimpedido do caos no trânsito. “A deterioração da qualidade de vida, decorrente da falta de mobilidade, resulta na perda de produtividade da economia”, apontou.

"A mobilidade urbana é prerrogativa para atrair os setores da economia que valorizam a qualidade de vida e geram conhecimento"- José Augusto Fernandes

PACTO SOCIAL – Participaram do debate o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda; pelo subsecretário-executivo municipal de Transportes do Rio de Janeiro, Carlos Eduardo Maiolino; pelo arquiteto e urbanista, Sérgio Magalhães; e pelo fundador do Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole (Urbem) e autor do projeto de revitalização do Centro de São Paulo, Philip Yang. Entre eles, houve consenso da necessidade de que um novo modelo de urbanização precisa ser implementado nas cidades brasileiras.

Entre eles, há consenso que o planejamento das cidades precisa ser construído a partir de um entendimento entre o poder público, o setor produtivo – que precisa comunicar seus anseios pela melhora na estrutura de transportes e necessidades de logística –, e a comunidade local, a quem cabe colocar suas necessidades pela melhoria no transporte público e de mobilidade não-motorizada, pelo deslocamento a pé ou por ciclovias, por exemplo.

De acordo com Sérgio Magalhães, a expansão desordenada das cidades observado nas últimas décadas é fruto de um modelo ultrapassado de urbanismo, despreocupado em integrar a cidade e ordenar os fluxos de pessoas e mercadorias em seu interior. “A qualificação do ambiente urbano é essencial para o desenvolvimento nacional. O desenvolvimento nacional e o urbano são interdependentes”, disse. Para Philip Yang, o sucesso das cidades no futuro depende de um concerto social.

O diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Fernandes, destacou a importância de qualificar os agentes públicos para planejar e gerir melhor as cidades, garantindo que sejam mais atraentes para a população e para o investidor. “A agenda da mobilidade não começa nem termina na mobilidade. Está ligado ao desenvolvimento urbano, à habitação, à segurança. A mobilidade urbana é prerrogativa para atrair os setores da economia que valorizam a qualidade de vida e geram conhecimento.”

Confira a seguir os principais aspectos da mobilidade debatidos no Seminário:

O Brasil possui 12 regiões metropolitanas, formadas por uma malha urbana que se espalha por mais de um município. Como há intenso intercâmbio de pessoas e mercadorias entre as cidades, é preciso planejar a região de forma integrada. “O planejamento tem de ser metropolitano”, disse o prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda. “BH é só metade da região conurbada e cresceu 6% nos últimos 10 anos. Mas outras cidades chegaram a crescer até 25%”. 

O subsecretário-executivo municipal de Transportes do Rio de Janeiro, Carlos Eduardo Maiolino, detalhou o plano de mobilidade urbana que o Rio de Janeiro está implementando para os Jogos Olímpicos de 2016, com o objetivo de integrar a cidade. Segundo ele, são 18 bilhões em investimentos previstos em sistemas de média e alta capacidade de transporte de passageiros. “Hoje apenas 17% da população do Rio não sofre os efeitos do trânsito em seus deslocamentos. Em 2016, vamos ter 52%”, previu.

Elevar a densidade habitacional ou ampliar a mancha urbana é um dilema corrente entre os administradores das cidades. O estudo patrocinado pela CNI, contudo, aponta que a maior redução nos custos sociais, de locomoção e de meio ambiente pode ser conquistada com o adensamento da cidade. “A expansão exagerada é incompatível com as cidades sustentáveis”, aponta o arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães. 

Idealizador do projeto de revitalização do Centro de São Paulo, Philip Yang destaca que a capital paulista possui o maior número de terrenos ociosos entre as 12 regiões metropolitanas do país. Essas áreas deveriam ser destinadas a programas de adensamento, aproveitando a infraestrutura de transportes, saneamento e telecomunicações já existentes – mais barato que construí-las do zero em novas áreas. “Isso oferece uma oportunidade única de recuperação das áreas. Mas precisam ser ocupadas de forma inteligente”, destaca.

Um dos temas que mais suscita debates trata do papel futuro que deve ser exercido pelo carro nas cidades do futuro. Uma coisa, porém, está clara entre os debatedores: a hegemonia do transporte individual deve dar lugar à do transporte coletivo de massa sob risco de levar as cidades à total imobilidade. O arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães aponta que o papel deve variar, de acordo com a configuração urbana de cada cidade. 

Para o arquiteto Philip Yang, por sua vez, além de garantir um serviço de transporte público de qualidade à população, é necessário também compactar as cidades, de forma a reduzir as distâncias a serem percorridas a cada deslocamento entre lar, trabalho e lazer. O subsecretário-executivo municipal de Transportes do Rio de Janeiro, Carlos Eduardo Maiolino, afirma que a mudança de comportamento só ocorrerá quando o transporte público oferecer três atributos ao passageiro: rapidez, regularidade e conforto. 

O prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, mostrou dados que apontam que, na capital mineira, a frota de veículos dobrou, desde 2001, enquanto a população cresceu 6% e a demanda pelo transporte público subiu apenas 10%. Ele considera esse modelo insustentável e afirma que o plano de mobilidade para a região metropolitana coloca o transporte coletivo e não-motorizado (a pé e bicicleta) como prioritários, mas os efeitos positivos dos projetos em curso só serão sentidos nos próximos anos. “Infelizmente, vai piorar antes de melhorar”, lamentou.

Download de Arquivos

Cidades: Mobilidade, Habitação e Escala - Um chamado à ação (PDF)

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