SENAI recebe especialistas do Politécnico de Milão para consultoria em design

Visita faz parte do acordo assinado entre a universidade e o SENAI, que prevê a troca de conhecimento entre brasileiros e italianos e consultorias às empresas brasileiras interessadas em inovação

Entre os dias 20 e 22 de fevereiro, uma equipe do POLI.design — instituição formada pelo Instituto Politécnico de Milão, na Itália — visitou o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) para participar da primeira reunião de trabalho prevista no acordo de cooperação firmado pelas instituições em 2012.

O grupo, liderado pelo presidente do POLI.design, Giuliano Simonelli, também apresentou aos gestores do SESI, SENAI e IEL a experiência do Politécnico em design de serviços.

A cooperação prevê que a universidade italiana promova capacitações especiais, com a  transferência de conhecimentos para os centros de tecnologia do SENAI. Os especialistas do Politécnico darão consultorias a empresas brasileiras interessadas em inovação de produtos e processos.

Pesquisador e professor do POLI.design de Milão, Venanzio Arquilla

O Portal da Indústria conversou com o pesquisador e professor do POLI.design de Milão, Venanzio Arquilla, que integra a delegação italiana. Arquilla é especialista em design de serviços, design industrial e design estratégico. Conheça um pouco mais sobre esse tema na entrevista a seguir:

Portal da Indústria - Como o design é tratado hoje no mundo?
Venanzio Arquilla - O design hoje é percebido por todas as grandes economias como um elemento para melhorar a qualidade de vida das pessoas e promover o crescimento das nações. De elemento para a projetação (uma das habilidades para o desenvolvimento de produtos e serviços), tornou-se elemento estratégico para a criação de valor em todos os níveis: para as empresas, instituições e sistemas de um país como um todo.

PI - Hoje, qual país ou nação é referência mundial em design?
Arquilla - As nações mais avançadas nesses termos são as do Norte da Europa. Um importante relatório que avalia essa situação foi publicado recentemente pela União Europeia: design for growrh e prosperity.

PI - E no caso do Brasil? Quando o assunto é design, o que pode ser feito para melhorar?
Arquilla - O Brasil tem uma boa cultura de base para o desenvolvimento de produtos por meio do design. E isso é demonstrado por exemplos de importância absoluta. A maioria das empresas, no entanto, não usa o design, ou ainda utiliza-o como um estilo, e a formação de jovens designers ainda é muito técnica. Isso é típico de uma economia industrial crescente e que ainda precisa trabalhar sobre a forma de produção e perfis profissionais imediatamente utilizáveis. O ambiente competitivo está mudando rapidamente. O mercado interno não é atraente. Para crescerem em linha coerente com o seu enorme potencial, as empresas e o sistema do país devem integrar o design de maneira estratégica nas políticas de desenvolvimento industrial e também no projeto de serviços. Para enfrentar os novos desafios dos mercados globais, valorizar a própria matriz cultural e contribuir para um crescimento coerente e sustentável do país.

PI - De que forma o design pode agregar valor ao produto?
Arquilla - O design entendido no sentido estratégico para a inovação não é valor agregado. É valor que constitui produtos e serviços dos países com economias evoluídas. Hoje, a produção final em si mesma e sem uma visão clara da inovação não é mais elemento sustentável. Mesmo que traga resultados a curto prazo, não é absolutamente sustentável a médio e longo prazo. Hoje, para fazer inovação de design é necessário construir novos modelos de valor que dão aos produtos e serviços um sentido e significado original e reconhecível. Isto se chama inovação “design driven“ como pode ser encontrada no livro homônimo de Roberto Verganti.

PI - Sobre a cooperação do SENAI com o Politécnico de Milão, como devem funcionar as consultorias?
Arquilla - O processo desenvolvido para e com o SENAI pretende aproximar as empresas à cultura de inovação design driven por meio da experimentação direta (learning by doing) em alguns projetos do Edital SENAI SESI de Inovação 2012 e 2013, num total de 48 projetos. Esses projetos poderão beneficiar-se de uma consultoria profissional de designers italianos selecionados pelo POLI.design e de uma avaliação de seus potenciais inovadores por parte de consultores do POLI.design. Além do desenvolvimento de projetos e empresas haverá um treinamento intensivo dos profissionais do SENAI sobre a inovação sistêmica em colaboração com o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O Edital SENAI SESI de Inovação 2013 será revisto para incorporar a inovação em design driven entre os elementos que devem ser valorizados.

PI - Qual a importância para o design brasileiro de consultorias como esta?
Arquilla - Projetos-piloto como este podem estimular o desenvolvimento de uma cultura inovativa nas empresas e no país como um todo. Os projetos desenvolvidos por essas empresas podem tornar-se exemplos concretos desse modelo de inovação para outras empresas, e ainda servir como um amplificador cultural. O objetivo é passar de um padrão de produção industrial standart, com uma grandíssima concentração de matérias-primas, para um novo modelo que aproveite essa riqueza. Isso dará um valor reconhecível para produtos e serviços brasileiros no contexto de competição global, com um processo sustentável.

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