Pessoas vão cada vez mais se apropriar dos dados para criar produtos, diz Ricardo Cappra

Cientista de dados diz que todos os negócios se basearão na análise de dados. Segundo ele, profissional da área precisa ter noções de ciência e tecnologia e dominar área de conhecimento

Ricardo Cappra

Co-fundador e vice-presidente da Associação Internacional de Investigadores em Branding, o cientista de dados Ricardo Cappra afirma que chegaremos a um momento em que todos os negócios terão que se basear na análise de dados para obter sucesso. Em entrevista à Agência CNI de Notícias, ele destaca que as pessoas vão se apropriar cada vez mais dos dados para criar produtos, em um cenário em que o chamado Big Data fará toda a diferença para o negócio.

De acordo com Cappra, um bom analista de dados precisará ter noções de ciência e tecnologia, além de dominar uma área de conhecimento. O especialista é palestrante do Fórum IEL de Carreiras. Cappra participou das edições de São Paulo, em junho, de Goiânia, em setembro, e de Vitória e Curitiba, em outubro. Leia a entrevista:

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Como os dados vão mudar o mundo daqui para frente?

RICARDO CAPPRA - Só o fato de a sociedade começar a entender que está deixando registros no mundo é um primeiro passo para entendermos as mudanças que virão. É inevitável que a gente consuma cada vez mais informações, pois há dado disponível sobre tudo. As pessoas vão cada vez mais se apropriar dos dados disponíveis para criar produtos. O Uber, por exemplo, nasceu de uma ideia em cima de dados.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Os dados passarão a ser fundamentais para o sucesso de uma empresa?

RICARDO CAPPRA - As startups, as empresas de tecnologia e qualquer empresa nova vão ter que nascer com uma orientação de dados. O Google é uma das maiores empresas do mundo justamente porque entendeu a lógica de usar dados primeiro, esse é um diferencial competitivo. Vamos chegar a um momento em que não vai haver opção senão a de começar um negócio sempre se baseando nos dados.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Como ficarão as profissões diante da tecnologia e da análise cada vez mais precisa dos dados?

RICARDO CAPPRA - As profissões já estão mudando. A gente vê hoje, inclusive no Brasil, muitas empresas contratando estatísticos. Não era algo comum. O estatístico, o matemático e as pessoas que entendem de dados estão começando a se transformar em cientista de dados. Esse movimento começa nas grandes empresas ou em pequenas que já tenham produtos criados em cima de dados. Mas há um meio do caminho, que são as empresas médias para grandes não tão inovadoras que ainda não estão dentro dessa realidade, mas logo vão precisar entrar.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - A profissão de cientista de dados é e será cada vez mais valorizada. Quais as atribuições desse profissional?

RICARDO CAPPRA - O cientista de dados pode ser dividido em três grandes blocos: o de ciência, que é a matemática, a estatística e a construção de fórmulas; O segundo fundamento é o da tecnologia, com programação, desenvolvimento de softwares e banco de dados; E o terceiro bloco é o da área de conhecimento, como profundo conhecimento em esportes ou ter uma área de conhecimento de grande profundidade. Com esses três pilares juntos, cria-se a disciplina de Ciência de Dados.

Portanto, o cientista de dados é formado por um conhecimento profundo de ciência ou de tecnologia ou de um conhecimento de causa, como o futebol por exemplo. Qualquer um desses perfis pode fazer parte da análise de Ciência de dados. Um cientista de dados pode conhecer um pouco de tecnologia, um pouco de ciência e muito de futebol, e ser um grande cientista de dados de futebol.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Como o Big Data pode contribuir para o bem da sociedade e da Indústria?

RICARDO CAPPRA - Muitos dados já estão públicos. Só precisamos de ação da sociedade para transformar essa realidade. Hoje, já há pequenas iniciativas que usam dados para analisar melhor um cenário. Há o caso, por exemplo, de uma startup que criou um produto para analisar os gastos públicos de políticos em restaurantes. A conclusão é que o gasto médio em determinado restaurante é de R$ 30, enquanto o político gasta R$ 160 no mesmo local. Os gastos de políticos estão disponíveis, eles são obrigados a apresentar notas fiscais. Aí ele pode dizer que pagou o almoço do assessor, mas isso é ilegal, não pode. Com essas informações nas mãos podemos começar a criar uma sociedade melhor, não por ser controlada ou observada, e sim por causa da transparência.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Os dados vão tirar a privacidade das pessoas?

RICARDO CAPPRA - Já estamos trocando de alguma forma a privacidade ou os dados privados pelo recebimento de produtos mais direcionados e específicos. É uma troca. Eu entrego dados para receber melhores produtos para mim. O dado hoje é uma forma de empoderamento, mas somente termos acesso aos dados não resolve os problemas do mundo, pois eles precisam ser analisados e transformados.

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