Incorporar critérios de compras sustentáveis traz oportunidades para empresas

Governo está desenvolvendo projeto piloto para inserção de critérios de sustentabilidade em compras públicas de papel, detergente e divisórias de madeira

Reunião do Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI que ocorreu nesta segunda-feira (30), em Brasília.

Cada vez mais empresas e organizações precisam adotar critérios de sustentabilidade para sobreviver no mercado e os fornecedores serão mais cobrados para também atender a requisitos de uso eficiente de recursos naturais e respeito questões sociais. Pesquisa recente realizada pela Ecovadis com 120 empresas na Europa e Estados Unidos mostra que as compras sustentáveis trazem benefícios como melhoria da reputação da marca, apontada por 90% dos executivos, desenvolvimento de relações mais confiáveis e duradoura com fornecedores, na visão de 70% dos líderes empresariais, e aumento de vendas, para 50% dos entrevistados.

De olho nas oportunidades que a incorporação de aspectos de sustentabilidade nos processos de compras das organizações podem trazer para o Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) está concluindo as adaptações na norma  ISO 20400, que fornece diretrizes para compras sustentáveis. A construção das diretrizes envolveram 52 países que representam 65% da população do mundo, 85% do PIB mundial e 73% das emissões de gases de efeito estuda. “Embora certificações desse tipo sejam voluntárias, elas estão sendo exigidas por consumidores e mercados”, destacou  Shelley Carneiro, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), durante reunião do Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI que ocorreu nesta segunda-feira (30), em Brasília.

Conforme o chefe da delegação brasileira da ISO 20400, José Augusto Abreu, não há como ver aspectos de sustentabilidade de uma organização sem olhar para suas compras. Segundo ele, a norma surgiu em virtude de uma demanda das empresas, que precisam construir cadeias de fornecimento sustentáveis. “As organizações precisam de estrutura para que todas áreas estratégicas implementem as compras sustentáveis”, disse Abreu.

De acordo com o diretor-técnico da ABNT, Eugenio Tostoy, a normalização de quesitos de fabricação de produtos facilita desde o treinamento de mão de obra ao acesso a mercados internacionais e também o desenvolvimento de novas tecnologias. Segundo ele, no Reino Unido, 13% do crescimento de produtividade é atribuído a implantação de normas técnicas e, na Alemanha, benefícios econômicos trazidos pela normalização representam 1% do Produto Interno Bruto (PIB). “Além disso, normas e atividade de avaliação da conformidade têm um impacto estimado em 80% do comércio de mercadorias mundiais”, complementou Tostoy.

José Augusto Abreu

COMPRAS PÚBLICAS – Para impulsionar os avanços em aspectos de sustentabilidade social e ambiental de empresas, o governo participa do projeto Compras Públicas e Rotulagem Ambiental (Spell, da sigla em inglês), da ONU Meio Ambiente. Segundo Antônio Julianni, analista de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), a iniciativa, realizada em parceria com os Ministérios do Meio Ambiente e do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, vai inserir critérios de sustentabilidade nas compras de produtos de três setores industriais: papel e celulose (papel para cópia e impressão), limpeza (detergente) e móveis (divisórias de madeira) – em uma experiência piloto de compra da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A previsão é que as compras sejam realizadas ainda este ano.

O especialista da CNI Sérgio Monforte destacou que o enfoque em sustentabilidade tem o objetivo, por um lado, de melhorar as compras governamentais e, por outro, de modernizar os processos produtivos do parque industrial brasileiro. “No entanto, é importante a participação do setor industrial nesse processo de construção da política para que os parâmetros não sejam apenas com base em práticas internacionais, mas que contemple a realidade da indústria brasileira, sobretudo, de pequeno porte”, afirmou.

HISTÓRICO – Em 2007, o Brasil aderiu ao Processo de Marrakesh, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), em que os países-membros se comprometem a desenvolver planos de ação para produção e consumo sustentáveis. Na Rio+20, em 2012, esse compromisso é reforçado no documento da conferência que constata a necessidade de mudanças estruturais como a sociedade produz e consome para se alcançar o desenvolvimento sustentável global. Em 2015, o consumo e produção responsáveis integram um dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS).

Há anos, a CNI e o setor industrial estão engajados nessa agenda. Prova disso é a inclusão do tema da sustentabilidade no Mapa Estratégico da Indústria 2013-2022. Em 2013, a entidade criou o Grupo Intersetorial de Produção e Consumo Sustentável, em que reúne representantes de diversos setores industriais para promover diálogo sobre o tema.  No ano passado, foi criada a Rede de Produção e Consumo Sustentável com o objetivo de criar, de forma gradual, as bases para a construçãode padrões de produção e consumo sustentáveis por meio do diálogo entre a indústria e o governo. Recentemente, a CNI também participou da construção da norma ISO 20400 e de debates com o governo para a criação de critérios para as compras públicas sustentáveis.

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