Carreira de sucesso é maior prêmio de campeões mundiais

Trajetória de jovens medalhistas prova que o esforço para alcançar uma medalha no maior torneio de profissões técnicas do mundo faz diferença no mercado de trabalho. Na semana que vem, 50 alunos do SENAI vão para a WorldSkills, em Abu Dhabi

Muito esforço, dedicação e compromisso com um treino intenso, diário e cansativo. Aliados ao foco na realização quase perfeita das tarefas técnicas e à vontade de vencer, formam os ingredientes da receita de como se faz um campeão do torneio mundial de profissões técnicas, a WorldSkills. Realizado a cada dois anos, o campeonato reúne jovens alunos da educação profissional de mais de 60 países. Se por um lado, a receita significa abrir mão de horas de diversão e de convívio social, por outro, representa um divisor de águas para uma carreira bem sucedida no mercado de trabalho. 

O paulista Henrique Santana, 23 anos, foi medalha de ouro no torneio mundial de 2013, na Alemanha, na ocupação de Fresagem a CNC (Comando Numérico Computadorizado) uma área da indústria que fabrica peças em metal por meio de máquinas programáveis por computador. O ex-aluno do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que na época tinha apenas 20 anos, teve 100% de acertos nas tarefas durante as provas. Ele já trabalhava como aprendiz na indústria Bosch, em Campinas (SP), onde mora e teve licença do emprego para treinar e participar do evento. 

Ao retornar com o título de melhor profissional de fresagem a CNC do mundo, o rapaz foi promovido a planejador técnico de ferramentaria na Bosch, cargo que normalmente levaria alguns anos de trabalho para conseguir. Ele atribui o salto na carreira ao acúmulo de conhecimento e à prática durante sua preparação. “Na Olimpíada, a gente tem um aprofundamento técnico muito grande. Pelo número de horas que a gente estuda, eu diria que o ganho é maior do que o de uma faculdade, porque é muito tempo de especialização”, avalia Santana, que treinou por três anos, dedicando-se de dez a 12 horas por dia. “É uma carga horária bem grande de trabalho e você está se desenvolvendo a cada dia, com possibilidade de ter acesso a tecnologias mais recentes”, diz. 
 

Carla Bona, prata em Design Gráfico em 2007, no Japão

VONTADE DE VENCER – Um ingrediente fundamental, segundo o joalheiro Leonardo Rodrigues, que ganhou ouro na modalidade durante a WorldSkills 2015, em São Paulo, é a vontade de vencer. "O que mais define alguém como um campeão, na minha avaliação, é a vontade. Quando a pessoa quer muito, não tem adversidade que ela não possa contornar. A parte técnica é imprescindível, o conteúdo aprendido é crucial, mas o grande diferencial é a vontade", diz o rapaz, hoje com 22 anos, que iniciou a produção e a venda de joias que levam sua marca logo após o torneio internacional.

Ao longo de 2016, ele abriu um escritório onde as peças são expostas aos clientes e montou um ateliê para confeccionar os produtos, ambos na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A chance de competir e de vencer uma edição da WorldSkills foi um divisor de águas na vida de Leonardo, na sua avaliação. "Isso é como o meu cartão de visitas", diz ele, que produz peças customizadas, de acordo com o perfil de cada cliente.

Como resultado de tantos anos de treinamento e estudos, os jovens profissionais que passam pela intensa preparação oferecida pelo SENAI para o torneio mundial desenvolvem habilidades valorizadas no dinâmico mercado de trabalho. A designer gráfica catarinense Carla de Bona, 31 anos, foi medalha de prata nessa profissão no campeonato realizado no Japão, em 2007.  Graças à preparação para o torneio, ela hoje se define uma profissional organizada e capaz de lidar com a pressão de ter que entregar trabalhos em curtos prazos e de forma eficiente. “Além disso, ganhei a mentalidade de ser focada em resultado e em praticidade, em tentar resolver as coisas em vez de ficar amarrando ou enxergando problema”, explica.

Natural de Criciúma (SC), hoje residente em São Paulo, Carla é dona de uma empresa de consultoria em Experiência do Usuário Digital – UX (User Experience). Além disso, faz palestras e dá aulas na Faculdade de Informática e Administração Paulista. Ela destaca que quando se mudou para a capital paulista, ter no currículo uma medalha da WorldSkills fez toda a diferença. “Quando eu fui para São Paulo, não conhecia ninguém. O meu currículo me ajudou a conseguir emprego, pois quando viam no currículo a Olimpíada, ficavam sabendo que era uma competição de alta performance”, comenta a ex-aluna do curso técnico do SENAI em Design Gráfico.

Fernando Mangili, vencedor do ouro em Desenho Mecânico em CAD, no torneio mundial do Canadá

Outro medalhista de ouro no torneio mundial, no Canadá, em 2009, Fernando Mangili, 28 anos, é atualmente projetista na área de engenharia de construção submarina para exploração de petróleo e gás da empresa Subsea, multinacional britânica instalada no Rio de Janeiro. A credencial de campeão mundial na ocupação de Desenho Mecânico em CAD – tecnologia que auxilia no desenvolvimento de projetos de engenharia e que ele estudou no curso do SENAI de Manutenção de Sistemas Eletromecânicos – o ajudou a conseguir a vaga de emprego. Foi o que aumentou seus rendimentos e o estimulou a mudar-se com a esposa de Bauru (SP) para a capital fluminense há cinco anos. “É um trabalho que tem muito mais a ver com o que eu tinha estudado e com uma chance de crescer muito maior do que [no emprego] anterior”, comemora Mangili.

TREINAMENTO – A próxima edição da WorldSkills, a  44ª, será disputada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, de 15 a 18 de outubro. Um grupo de 56 jovens passou por rigoroso treinamento, com duração de um ano, para garantir uma vaga na delegação brasileira que participará do torneio.

WORLDSKILLS - Realizada a cada dois anos, a WorldSkills é a maior competição de educação profissional do mundo. Os melhores alunos de mais de 70 países das Américas, Europa, Ásia, África e Pacífico Sul disputam medalhas em modalidades que correspondem às profissões técnicas da indústria e do setor de serviços. Eles precisam demonstrar habilidades individuais e coletivas para responder aos desafios de suas ocupações dentro de padrões internacionais de qualidade. Ao longo de seus 65 anos, o torneio reúne jovens qualificados de todo o mundo, selecionados em olimpíadas de educação profissional de seus países, em etapas regionais e nacionais.

Em agosto de 2015, a cidade de São Paulo sediou a 43ª WorldSkills, no Anhembi Parque. A delegação brasileira, formada por 56 competidores, foi a grande campeã da edição, conquistando 27 medalhas. Foram 11 de ouro, 10 de prata e 6 de bronze, além de 18 certificados de excelência. No ranking de pontos totais, o time brasileiro ficou no lugar mais alto do pódio. Esse foi o melhor desempenho do Brasil desde que começou a participar da competição, em 1983. A delegação competiu com 61 países, representados por 1.190 competidores, número recorde na história do evento.

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