Brasil leva 4,5 anos em média para promulgar acordos negociados com outros países

Levantamento da CNI mostra que 27 tratados internacionais assinados pelo Brasil entre 2003 e 2017 se arrastam pela burocracia até serem incluídos na legislação brasileira

Acordos internacionais assinados pelo governo brasileiro levam, em média, 1.590 dias entre a foto oficial e a entrada em vigor no direito interno. São mais de quatro anos tramitando na burocracia do Estado. O prazo é muito longo e impede que o setor produtivo se beneficie rapidamente de acordos de livre comércio, facilitação de investimentos e tratados para acabar com a dupla tributação ou reduzir em mais de 60% o custo com expatriados. É o que mostra levantamento inédito feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A CNI mapeou a tramitação de 27 acordos internacionais firmados pelos Brasil entre 2003 e 2017, que são críticos para a competitividade da economia brasileira. Destes, somente 18 foram promulgados até o momento. Os outros nove passaram pelo Congresso e aguardam o decreto presidencial. Fase que, em média, leva um ano.

“O Executivo consome muito tempo apenas com procedimentos burocráticos, pois não há mudança a ser feita no acordo após sua assinatura. Apenas o Legislativo pode deliberar se aprova ou não o texto”, explica o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.

O processo de internacionalização tem três etapas e pelo menos dois gargalos. Assim que assinado, o acordo é encaminhado para o Executivo, onde fica cerca de um ano dando voltas pelos ministérios, somente para conhecimento dos envolvidos. Na segunda etapa, a Casa Civil encaminha mensagem ao Congresso, onde fica, em média, 808 dias, em análise. Uma vez aprovado, o decreto legislativo volta para o Executivo, onde passa outro ano até ser promulgado.

Segundo Abijaodi, é praticamente impossível acompanhar a tramitação dos acordos no Executivo, pois ao contrário do Legislativo e do Judiciário, não há processos de acompanhamento online. “É pouco transparente. Às vezes nos informam que está num ministério x, mas está no y parado há mais de um mês”, diz o diretor.

A longa caminhada pela qual passam os acordos brasileiros dentro do governo se torna ainda mais grave quando há prazo de implementação após a entrada em vigor. Um exemplo é o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, que começou a ser negociado em 1995. Se ele for assinado em dezembro de 2017, ele será internalizado em 2022. Com prazo de desgravação – redução do imposto de importação – de 10 anos, os efeitos totais só serão vistos em 2032.

EXEMPLOS – Entre os parceiros do Brasil no Mercosul, o trâmite é mais acelerado. No caso do Acordo de Comércio Preferencial entre Mercosul – Índia, assinado em 19 de março de 2005, ele foi aprovado pelo Parlamento do Paraguai em 11 de novembro de 2005. No Brasil, o Executivo só encaminhou a mensagem ao Congresso em outubro daquele ano. O decreto legislativo foi publicado em 4 de setembro de 2008 e o decreto presidencial só foi assinado em 1º de junho de 2009.

Há casos extremos como o Acordo de Comércio Preferencial Mercosul-SACU que levou sete anos e um mês para entrar em vigor. Os presidentes dos dois blocos assinaram o acordo em 3 de abril de 2009. O governo do Uruguai, por exemplo, promulgou o acordo em 30 de setembro de 2011. No Brasil, a Casa Civil só encaminhou a mensagem para o Congresso mais de um ano depois, em 14 de abril de 2010. O Congresso aprovou o texto, mas o Itamaraty identificou, pós-aprovação, mais de duas centenas de erros de tradução do inglês para o português. O documento voltou para o Congresso e só foi internalizado em 4 de abril de 2016. 

O acordo para evitar dupla tributação (ADT) entre Brasil e Rússia passou 12 anos e 11 meses para ser promulgado. O Congresso também precisou apreciá-lo duas vezes, pois o Executivo encaminhou o documento faltando uma das páginas do anexo 1. O ADT entre Brasil e Venezuela levou nove anos e 11 meses para ser aprovado.

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