Programa do SENAI em parceria com o governo leva Indústria 4.0 a pequenas e médias empresas

Sistema de baixo custo, com uso de sensores e monitoramento em tempo real, permite controle sobre a produção e leva indústrias a ganhos de produtividade. Empresas Lunã e Rineli, de Santa Catarina, registraram queda nos desperdícios

A empresa Lunã já colhe resultados positivos nos três meses em que participa do programa

Com baixo custo e retorno rápido com ganhos de produtividade, empresas de pequeno e médio porte começaram a se inserir na realidade da Indústria 4.0, por meio do Programa Indústria Mais Avançada. Executado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) em parceria com o governo federal, o projeto já apresenta resultados práticos nas indústrias do ramo alimentício Rineli e Lunã Delícias Caseiras, localizadas em Santa Catarina. A iniciativa faz parte do Programa Brasil Mais Produtivo, conduzido pelo SENAI e o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).

O chão de fábrica de ambas as empresas recebeu sensores e equipamentos digitais, que monitoram em tempo real a produção de massas, no caso da Rineli, e de biscoitos, no caso da Lunã. As informações são acessadas em telas de smartphones ou tablets e, a partir dos dados recebidos, os empresários e supervisores podem tomar com celeridade decisões que resultam em aumento da produtividade. “As empresas conseguem monitorar em tempo real tudo o que está acontecendo sem a necessidade de esperar até o fim do dia para contabilizar a produção. Ao longo do dia os ajustes podem ser feitos e os benefícios são imediatos”, afirma o gerente-executivo de Inovação e Tecnologia do SENAI, Marcelo Prim.

Segundo ele, a expectativa do SENAI é levar as técnicas de digitalização e conectividade, em curto espaço de tempo, para pequenas e médias empresas de todo o país a um baixo custo e com alto retorno de produtividade para as empresas. “O sistema permite verificar, por exemplo, que um lote não será entregue no tempo planejado antes de sua conclusão. Com esse monitoramento, pode-se corrigir a rota de produção e atingir a meta ao longo do dia. Isso tudo tem um impacto significativo, com salto em torno de 20% a 30% na produtividade da empresa”, detalha o gerente.

Na terça-feira da semana passada (5), uma comitiva de representantes do SENAI e do governo visitou as indústrias Rineli e Lunã. No grupo, havia integrantes do MDIC, Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), do SENAI Nacional e de Santa Catarina. As duas empresas receberam em um momento anterior consultoria do SENAI, também no Programa Brasil Mais Produtivo, em manufatura enxuta, antes de aderirem ao sistema voltado para digitalização e conectividade.

BONS EXEMPLOS – Na Rineli, em São José (SC), pôde-se observar ganho em termos de agilidade a partir do monitoramento digitalizado da produção de pasteis e outras massas. “Antes, fazíamos tudo no papel. Hoje, podemos acompanhar a produção em tempo real. A contagem do estoque foi modificada assim como o acompanhamento da produção. Se uma linha parar com a algum problema, a responsável pela operação do sistema faz o apontamento e, com os dados em mãos, temos condições de tornar a produção mais eficaz”, explica o gerente da Rineli, Luiz Fernando Zuqui. “Podemos fazer ajustes precisos ao longo do caminho, pois, ao saber onde estamos perdendo ou por que a máquina parou, agimos com mais rapidez. Assim, passamos a ter cada vez mais rapidez na produção”, completa.

O chão de fábrica recebeu sensores e equipamentos digitais, que monitoram em tempo real a produção de biscoitos

A Lunã também já colhe resultados positivos nos três meses em que participa do programa. O diretor da empresa, André Roberto Pereira, conta que já são nítidos os ganhos de produtividade e a redução de perdas de biscoitos nas linhas de produção. “Podemos visualizar na tela e acompanhar a produção e as paradas. A informação é importante para diagnosticarmos os problemas e agirmos rapidamente nos reparos. Ainda não temos números, pois o uso do sistema ainda será ampliado na indústria, mas esperamos retorno em temos de lucratividade”, afirma o diretor.

O secretário de Inovação e Novos Negócios do MDIC, Marcos Vinícius de Souza, observa que a conectividade e as ferramentas digitais não são exclusividade de grandes empresas. “A gente vê no exemplo aqui desta fábrica (Rineli) que a tecnologia está disponível para qualquer empresa brasileira que queira aumentar a produtividade através de ferramentas digitais”, enfatiza. “A gestão dos dados permite a tomada rápida de decisões e a correção de problemas, o que resulta em aumento da produtividade, a partir do uso de ferramentas simples e baratas, que permitem a recuperação do investimento em pouco tempo”, acrescenta.

O assessor especial para Indústria 4.0 do MDIC, Rafael Moreira, observou que o controle e monitoramento do processo de produção são os primeiros passos para a implantação da Indústria 4.0. “Depois de adotar a manufatura enxuta, o controle sobre o processo é fundamental para que o industrial não perca os ganhos de produtividade incorporados pelo programa, durante o acompanhamento de consultores, de forma inteligente e digital”, diz Moreira.

Na avaliação do diretor de Planejamento e Gestão da Embrapii, José Luís Gordon, as informações obtidas a partir dos sensores levam as empresas a um padrão diferenciado de processo produtivo, pois o monitoramento permite precisão na relação entre a produção e a demanda. “O programa está trazendo novo padrão às empresas, pois permite que elas diagnostiquem os problemas que estão enfrentando para melhorar o processo produtivo e, com esses dados, vão conseguir planejar a estratégia de produção de forma padronizada e organizada”, destaca.

Empresas de pequeno e médio porte contam hoje com apoio do BNDES para o financiamento de projetos de inovação. Segundo a chefe do Departamento de Bens de Capital, Mobilidade e Defesa do BNDES, Ana Cristina Costa, a instituição dispõe de linhas de crédito que contemplam a implantação de manufatura avançada na indústria. “O BNDES tem um acordo de cooperação técnica com a CNI, aonde um dos motes é o Brasil Mais Produtivo. A ideia é que os investimentos venham para o caminho da manufatura avançada e que ocorram passo a passo, não é necessário se mudar todo o processo produtivo de uma vez”, frisou.

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