Pessoas com Síndrome de Down buscam na educação profissional caminho para o primeiro emprego

A aprendizagem industrial é uma das opções para os alunos e oferece qualificação e condições para inserção no mercado de trabalho

Nesta terça-feira (21) é celebrado o Dia Internacional da Síndrome de Down. O dia foi escolhido em alusão a uma alteração genética no “cromossomo 21”, que deve ser formado por um par, mas, no caso das pessoas com a síndrome, possui três exemplares (trissomia). Uma das lutas das pessoas com a síndrome que ganha mais visibilidade nesse dia é a educação e a inclusão no mercado de trabalho com permanência e sucesso. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), atento à questão, mantém o Programa SENAI de Ações Inclusivas (PSAI) que prepara e capacita em seus cursos alunos com diferentes deficiências e, também, com a Síndrome de Down. No ano passado, as matrículas de alunos com deficiência intelectual totalizaram 3.963 na instituição, 2,3% a mais que o número de matrículas realizadas em 2015.

O carioca João Marcos Andrade Porto tem 21 anos e mora em Niterói (RJ) com a mãe Nelcy Andrade, de 58 anos. Ex-aluno do PSAI, hoje ele trabalha no supermercado Assaí de segunda a sexta-feira no turno da manhã. Às quintas-feiras o horário é diferenciado, vai das 14h às 20 horas, pois pela manhã participa de um curso de atendimento no qual faz serviços de recepção em salões de beleza. João também encontra tempo para as aulas de violão (uma vez por semana), para frequentar o grupo da igreja e para se encontrar com a namorada Luíza, 19 anos, que mora em Cabo Frio.

No supermercado, João tem uma carga de oito horas diárias, das 7h da manhã às 15h30. Arruma prateleiras e também faz trabalhos de escritório, com organização e proatividade, características que lhe são peculiares em tudo o que faz, de acordo com a mãe Nelcy. Ela conta que o filho é disciplinado e gosta muito de ajudar os outros. “Neste mês ele foi eleito funcionário padrão do mercado”, diz.

“João adora trabalhar!”, diz Nelcy. Por isso, ela fez questão de matricular o filho no SENAI em 2009, quando ele tinha 15 anos, após terminar o ensino fundamental. Durante um ano, no curso de Confeiteiro, aprendeu a fazer bolos, doces e pães. Nesse período no SENAI, teve seu primeiro contato com uma atividade profissional. “O João gosta de fazer tudo certinho, é metódico, compenetrado, logo se destacou e foi chamado para participar da Olimpíada do Conhecimento (competição que reúne alunos da educação profissional de todo o país)”, lembra Nelcy.

Para estar entre os competidores, ele treinou durante dois anos, de segunda a sexta-feira, das 13h às 17h. “Ele adorava e sentiu falta das atividades diárias quando o evento terminou”. João competiu na categoria Panificação (Síndrome de Down). Depois da Olimpíada, João foi aprendiz durante um ano, em 2014, pela empresa de serviços de tecnologia General Eletric. Nesse período, trabalhou no suporte técnico de informática e tinha carteira assinada.

“O João arruma o quarto, lava louça, gosta de fazer tudo em casa”, descreve Nelcy. Ela relata que o filho tem esse perfil desde pequeno. Com isso, seu desenvolvimento foi crescente. João foi alfabetizado aos 9 anos, ia sozinho para vários lugares já aos 12 anos de idade, cursou o ensino fundamental no Colégio Nossa Senhora da Assunção, e o ensino médio no Colégio Vital Brasil, onde cursou o supletivo por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em um ano e meio – concluído aos 20 anos.

Gabriela começou, nesta semana, seu segundo curso no SENAI

ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – Nesta segunda-feira (20), a brasiliense Gabriela Alves Pereira, 21 anos, começou seu segundo curso no SENAI de Taguatinga, no Distrito Federal. Desta vez, é o de aprendizagem para Assistente Administrativo. No conteúdo, Português, Matemática, Gestão e Informática. O curso terá duração de um ano, com aulas teóricas e prática profissional. Trata-se de parceria entre o SENAI e o Serviço Social da Indústria (SESI), em que ela terá um contrato pelo SESI e carteira assinada. 

Gabriela completa 22 anos no dia 25 de março. Tem duas irmãs – Bruna, de 25 anos, e Lorena, de 16 anos. É a única da família com Síndrome de Down. Mora com a mãe, Cláudia, e a irmã mais nova em Águas Claras, distante 20 km do centro de Brasília. Em 2015, enquanto cursava o ensino médio, no Centro Educacional 06 de Taguatinga Norte, foi convidada por uma colega de trabalho da mãe a fazer um estágio como auxiliar de serviços administrativos. Era o primeiro trabalho da jovem. O convite veio de uma amiga da mãe de Gabriela, que também tem um filho com Síndrome de Down.

Durante o estágio, a equipe do escritório percebeu que Gabriela precisava de conhecimentos em informática. “Para se inserir no mercado de trabalho, era preciso suprimir essa dificuldade”, conta Cláudia, a mãe dela. Foi então que levou a filha ao SENAI. Gabriela fez o curso de Operador de Computador. “Ela gostou do curso. O professor era muito atencioso e eu a acompanhava nas aulas, fazíamos as atividades juntas e ela aprendia com facilidade quando eu fazia com ela”, relata Cláudia. Ela percebia que a filha precisava de bastante prática para assimilar os conteúdos aprendidos. “Crianças com a síndrome precisam repetir os exercícios diversas vezes para aprender e ter autonomia”, observa.

O curso no SENAI durou quatro meses. Ao terminar o ensino médio, no fim de 2015, ela se dedicou a atividades ligadas ao seu desenvolvimento e saúde, como sessões de fonoaudiologia, atendimento psicológico, dança (ballet e dança do ventre, por meio de um projeto de dança inclusiva chamado Belly Down, do Instituto Anandah). “Nossa busca sempre foi inserir a Gabriela no mercado de trabalho”, diz Cláudia, que é professora de inglês na rede pública de ensino há mais de 20 anos.

Matrículas do PSAI (deficiência intelectual)
2013 2014 2015 2016
2.724 3.271 3.874 3.963

CONQUISTA PARA A FAMÍLIA - Ao voltar do primeiro dia de trabalho, Daniel Jales Ribeiro, 18 anos, chegou em casa e chorou. A mãe, preocupada, perguntou o que tinha acontecido. “Estou trabalhando, mãe!”, ele respondeu, emocionado e feliz. Maria Lourdilma Jales Ribeiro, 56 anos, mãe de Daniel, conta que a atividade é uma conquista para ele e toda a família que o acompanha em suas atividades e desenvolvimento. 

Ele tem Síndrome de Down e está no terceiro e último ano do curso de Aprendizagem Industrial de Assistente administrativo na Escola SENAI Suzana Dias, no município de Santana de Parnaíba, em São Paulo. Daniel é aprendiz em uma empresa de rolamentos (a SKF). Participa do programa Meu Novo Mundo, que estabelece um vínculo entre as pessoas com deficiência (PcD) e empresas, por meio da aprendizagem do SENAI-SP, com o objetivo de promover a inclusão social dos alunos. 

Daniel tem contrato de aprendiz, salário e ajuda no transporte. O curso de Aprendizagem Industrial de Assistente Administrativo tem duração de três anos. Ao longo do primeiro ano, os alunos têm aulas teóricas e fazem visitas técnicas à indústrias uma vez por mês, para se ambientarem. No segundo ano, vão para a empresa a cada 15 dias. No terceiro, vão toda semana. No segundo ano, eles têm no currículo as disciplinas “identidade e sociedade”, raciocínio lógico, vocação e mundo do trabalho. “São disciplinas que trabalham a inserção no mundo do trabalho”, explica o professor Alexandre Morandi. No segundo e no terceiro anos do curso, os alunos aprendem rotinas de administração e práticas profissionais na empresa.

Daniel começou o curso em março de 2015 e termina agora em março de 2017. “Ele cresceu muito no aprendizado. Os professores trabalham em um plano de ensino voltado para a autonomia dele. A evolução do jovem é bem significativa, que hoje até se posiciona melhor nas situações”, descreve o professor Alexandre, coordenador pedagógico da Unidade SENAI. “Ele desenvolveu muito a coordenação motora, a fala, o convívio social, o comportamento, tudo”, garante sua mãe.

Na empresa onde trabalha dois dias por semana, Daniel fica no departamento de Recursos Humanos e faz serviços de auxiliar de escritório. “Ele gosta muito de ir para a empresa”, conta a mãe de Daniel. Segundo ela, o filho tem facilidade para executar serviços, mas que ainda tem dificuldades na leitura e na escrita. “Vamos continuar incentivando ele para que possa melhorar cada vez mais”, afirma Maria Lourdilma.

SAIBA MAIS - Acesse o site para conhecer melhor o Programa SENAI de Ações Inclusivas (PSAI).

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