Barco escola do SENAI qualifica quase 800 moradores de Tapauá, cidade no interior do Amazonas

Grade com os 24 cursos ministrados no barco escola é definida com base nas necessidades levantadas nos municípios da região

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Pelo menos 773 moradores de Tapauá, no rio Purus, a 449 quilômetros de Manaus, concluíram, nos meses de junho e julho, os cursos gratuitos oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) a bordo do barco escola Samaúma 2. Nesta sexta-feira (31), em solenidade no centro cultural local, os novos técnicos em alimentos, refrigeração, informática e gestão de resíduos sólidos, vão receber o certificado que os habilita como empreendedor individual ou, no mínimo, a uma vaga no mercado de trabalho. A grade com os 24 cursos ministrados no barco escola é definida com base nas necessidades levantadas nos municípios da região.

Silas e Manoel usam uma canoa para chegar ao curso do Samaúma 2

Os irmãos Manoel e Silas Cabral da Silva, de 24 e 17 anos, respectivamente, não deixaram escapar a oportunidade de fazer o curso de operador de microcomputador, de 160 horas. Mesmo que para isso tivessem que mudar bastante a rotina para estar diariamente às 13h no Laboratório de Tecnologia da Informação, no barco escola, ancorado no porto de Tapauá. Moradores de uma comunidade afastada, no rio Ipixuna, afluente do Purus, os irmãos tiveram que remar 30 minutos de ida e volta, nos 40 dias de duração do curso. A escolha da informática foi ideia do mais novo, que justificou a importância da qualificação em novas tecnologias para o irmão mais velho.

“Hoje encontramos tecnologia em quase tudo, mesmo aqui em nossa cidade, sendo tão longe da capital, somos atraídos por todas as coisas que nos dão acesso à internet e aos diversos recursos digitais. Queremos concluir o curso e tentar emprego na cidade (Tapauá) e ajudar nossos pais que trabalham na agricultura”, disse Silas.

Manoel espera conquistar um futuro melhor como operador de microcomputador, o que inclui o sonho de voltar a morar em terra firme. A família do aluno vive em casa flutuante, construída diretamente sobre toras de madeira. Para ele, desconforto e  perigo são uma constante na vida dos familiares por estar no meio do rio.

Para o instrutor do curso operador de micro, Rodolfo Galúcio, a missão do SENAI Amazonas com suas unidades fluviais é disseminar a educação profissional em lugares de difícil acesso, contribuindo com a sustentabilidade dos municípios atendidos ao formar alunos com habilidades em desenvolver atividades profissionais em diversas áreas. O corpo docente do Samaúma 2 é formado por dez instrutores.

“Em cada município que aportamos temos o desafio de melhorar a vida de nossos alunos. Repassar o conhecimento em sala de aula, mostrar que cada um pode atuar profissionalmente na área e saber que eles, à medida que aprendem, passam a fazer planos para o futuro, nos traz a satisfação e o sentimento de missão cumprida. Exercer a atividade de instrutor do SENAI no Samaúma 2 é um privilégio”, declarou Galúcio.

Inaugurado em fevereiro de 2014, o Barco escola SENAI Samaúma 2 está em sua terceira missão no Amazonas, depois de passar pelos municípios de Tefé e Coari. A nova unidade fluvial veio para reforçar o trabalho desenvolvido pelo pioneiro Samaúma, que, em 36 anos, qualificou mais de 52 mil pessoas nos estados do Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Amazonas e Amapá, este último onde o barco se encontra desde outubro de 2013.

A quituteira Marluce consegue uma renda superior a R$ 1 mil com a venda de doces e salgados aprendidos no Samaúma. Ela buscou mais qualificação no barco escola do SENAI

NOVAS TÉCNICAS - Foi para aprimorar os conhecimentos adquiridos há 13 anos, na terceira visita do Samaúma 1 a Tapauá, que a quituteira Marluce de Oliveira, 48 anos, matriculou-se novamente num curso de alimentos oferecido pelo Samaúma 2, desta fez para aprender o ofício de confeiteiro industrial, sob o comando do instrutor José Roberto de Oliveira, que tem especialização em gastronomia na Europa.

Marluce conta que sua principal renda desde 2002 vem da venda de doces e salgados por encomenda. “O que eu ganho com a venda de salgados é maior do que o meu salário como serviços gerais de uma escola municipal. Em datas festivas, como Dia das Mães e festas de fim de ano, chego a fazer mais de R$ 1 mil, pois todos em Tapauá conhecem a qualidade dos meus salgadinhos e doces”, revelou a aluna que neste ano espera aumentar a produção com as novas receitas aprendidas no Laboratório de Alimentos do Samaúma 2.

De acordo com o instrutor José Roberto, são mais de 40 receitas ministradas no curso de confeiteiro industrial que possui carga horária de 160 horas. Os alunos aprendem a teoria e o passo a passo das receitas colocando a mão na massa. “Aqui ensinamos as novas técnicas em modelagens, cortes e recheios que utilizamos em bolos decorados, doces e salgados. Os alunos saem bem capacitados para produzir e ter um rápido retorno financeiro”, disse o instrutor.

Na avaliação da psicóloga Valdirene Lobo, 38 anos, funcionária pública municipal, a ação do SENAI levada pelos barcos escola Samaúma nos municípios ribeirinhos da Amazônia é de fundamental importância para a economia das cidades do interior, pois os alunos têm a oportunidade de se qualificarem e passam a ter renda própria a partir do exercício de suas novas ocupações profissionais.

“A população de cidades do interior do Amazonas, em sua maioria, depende dos recursos financeiros das prefeituras, e a expectativa é grande quando os barcos Samaúma chegam porque trazem qualificação e  deixam muitas pessoas aptas a desenvolver seus próprios negócios e prestarem serviço de excelência no município. O resultado da educação profissional ministrada pelo SENAI, em parceria com a prefeitura, é a geração de renda e a menor dependência da prefeitura”, disse  Valdirene.

A ação do SENAI com os dois barcos escola conta com parcerias das prefeituras locais e com a Petrobras, que responde pelo combustível utilizado na embarcação.

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