“Em alguns anos, vocês poderão jogar videogame com o pensamento e, além disso, vão conseguir sentir a consistência do que o personagem está tocando ou pisando”

O renomado neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis prepara uma grande surpresa para o mundo no próximo dia 12 de junho, durante a abertura oficial da Copa do Mundo no Brasil: o pontapé que vai  inaugurar o evento, no jogo entre Brasil e Croácia, será dado por um paraplégico. Utilizando um exoesqueleto, uma espécie de prótese externa do esqueleto humano, ele vai levantar da cadeira de rodas, dará 25 passos e chutará a bola. 

A proposta, considerada pela revista Scientific American uma das dez ideias que estão “além dos limites da ciência atual”, faz parte do projeto “Andar de Novo”, pesquisa que Nicolelis lidera no laboratório de Neurociência da Universidade Duke, nos Estados Unidos. Esse foi um dos temas abordados pelo pesquisador em sua palestra, nesta sexta-feira (21), aos participantes do Torneio de Robótica First Lego League, em Taguatinga, Brasília. 

Ele marcou presença no evento para ressaltar a importância dos estudos na área de robótica. Há anos o laboratório em que trabalha estuda a interação entre o cérebro e máquinas. “Existem no mundo 25 milhões de pessoas que não conseguem se mover com a facilidade com que nós conseguimos. O que sempre estudamos é justamente como fazer para movimentar robôs apenas com o pensamento e, assim, ajudar pessoas com algum tipo de paralisia”, explicou Nicolelis, que foi o primeiro brasileiro a ter um artigo publicado na capa da revista Science. 

Durante a palestra, os alunos de 9 a 15 anos que participam do Torneio de Robótica acompanharam atentos cada palavra do estudioso. Ele apresentou vídeos e explicou vários de seus estudos em neurociência. “A macaca Aurora, por exemplo, foi a primeira a conseguir jogar videogame apenas com o cérebro, a partir de seus pensamentos”, pontuou, exemplificando com imagens. 

FUTURO – “Vocês já pensaram em entrar em um carro, cruzar os braços e sair dirigindo, apenas com o pensamento? É nisso que estamos trabalhando. Ontem (quinta-feira, 20) em nosso laboratório nos Estados Unidos, uma de nossas macacas fez isso. Sentou em cima de um carrinho e ele se movimentou apenas com o pensamento dela”, disse Miguel Nicolelis no Torneio de Robótica. 

Segundo o pesquisador, a ideia é desenvolver não apenas a habilidade de mover coisas, mas que haja uma troca de sensações. “Em alguns anos, vocês poderão jogar videogame com o pensamento e, além disso, vão conseguir sentir a consistência do que o personagem está tocando ou pisando”. 

E é justamente isso que vai acontecer na abertura da Copa do Mundo. O paraplégico que chutará a bola, ao se levantar, vai sentir a sensação de pisar na grama e o chute. “O mundo inteiro vai saber que no Brasil se faz ciência, e como agente de transformação social. Será um presente do nosso país para 25 milhões de pessoas no mundo”, concluiu, deixando todos orgulhosamente emocionados. 

A COMPETIÇÃO - O Torneio de Robótica é realizado pelo Serviço Social da Indústria (SESI), em conjunto com os parceiros fundadores Lego e a organização americana First (For Inspiration and Recognition of Science and Technology). O  tema deste ano é Fúria da Natureza. Entre outros desafios, os estudantes montam e programam robôs que solucionarão problemas com desastres naturais, como avalanches, deslizamentos de terra, enchentes, tsunamis, tempestades. Os times se submetem a quatro categorias de avaliação na arena montada no SESI de Taguatinga até o próximo domingo (23). 

FOTOS - Acesse todas as fotos da disputa no Flickr da CNI! 

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