A falta de mão de obra qualificada e a excessiva burocracia são os principais desafios para as indústrias brasileiras ganharem competitividade internacional. Os obstáculos foram apontados por empresários que participam do 8º Encontro Nacional da Indústria (ENAI) , promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em Brasília (DF).
“A burocracia tem relação direta com as decisões de investimentos. O empresário olha isso, a segurança jurídica e a previsibilidade, antes de investir”, afirmou Luiz Tarquinio Ferro, presidente da siderúrgica Tupy S/A, fabricante de partes de motores automotivos. Isso influencia até na visão que os investidores estrangeiros têm do Brasil, que, segundo ele, é “desabonadora”.
Para Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a burocracia é algo que precisa ser cuidado sempre, sob pena de se perderem avanços conquistados. “O Simples Nacional desburocratizou para as micro e pequenas empresas, simplificando o recolhimento e diminuindo a carga tributária. Mas, por conta da burocracia, hoje tem estado cobrando ICMS pela substituição tributária dessas empresas, que têm um novo aumento da burocracia e, pior, estão pagando o tributo duas vezes”, disse.
Para Annette Reeves de Castro, superintendente da Esmaltec, indústria paulista de eletrodomésticos, mais problemático do que a burocracia, que ela enfatiza também ser deletéria, é a falta de mão de obra qualificada na indústria. “Esse é o nosso maior problema. Na maioria das vezes, temos de treinar o trabalhador, inclusive ensinar o básico, a ler e escrever. E, com o mercado de trabalho aquecido, rapidinho ele sai da empresa, vai buscar outro lugar ou até ir para o seguro-desemprego”, afirmou.
Essa situação, segundo Annette e Carlos Alberto dos Santos, leva a um superaquecimento dos salários, que eleva demasiadamente o custo das empresas, principalmente as de menor porte. “Essa pode ser a diferença entre a empresa continuar ou fechar”, salientou Santos.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, reconheceu os problemas e disse que é imperativo reduzir “drasticamente” a burocracia. “Temos de promover eficiência nos processos, automação, mudança de mentalidade”, disse, acrescentando que o excesso de burocracia também afeta o setor público, não apenas o privado.