No mesmo dia em que o Ministério da Educação (MEC) divulga a primeira chamada de selecionados pelo Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica (Sisutec) em 117 cursos técnicos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) reúne especialistas em Porto Alegre para discutir a formação para o mundo do trabalho. Apesar de o governo federal ter reforçado o discurso e os programas de incentivo à formação técnica nos últimos anos, a indústria ainda percebe na falta de mão de obra qualificada um dos principais entraves para aumentar a competitividade do país no setor.
Uma pesquisa realizada em 2011 pela CNI mostrou que 69% das empresas enfrentam dificuldades com a falta de qualificação profissional. Dessas, 78% oferecem treinamento na empresa, mas 52% delas afirmam que a má qualidade da educação básica dificulta a capacitação interna.
Precisamos formar cérebros de obra , a maioria dos cursos técnicos faz treinamentos para tarefas repetitivas, hoje o trabalhador da indústria precisa tomar decisões e lidar com tecnologia comenta Heitor José Müller, presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
A Fiergs é quem organiza o seminário de hoje para reunir sugestões que, em setembro, serão discutidas em Brasília no intuito de criar uma agenda para a educação profissionalizante, dentro do programa Educação para o Mundo do Trabalho, da CNI.
Programa criado com objetivo de abrir 8 milhões de vagas
O secretário estadual da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico, Cleber Cristiano Prodanov, destaca que o Pacto Gaúcho Pela Educação Profissionalizante, Técnica e Tecnológica já vem tentando estabelecer esse diálogo entre o setor produtivo e a formação do trabalhador.
Em articulação com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), criado em 2011 pelo governo federal com o objetivo de abrir 8 milhões de vagas até 2014, no ano passado, o Pacto conseguiu preencher 72% das posições abertas. O índice de preenchimento é maior no Pronatec/Tec, voltado a profissões mais especializadas, com 82% de ocupação. No Pronatec/Fic, que atinge funções mais básicas, o índice cai para 63%.
O desafio é trazer pessoas que não estão no mundo do trabalho para esse processo de formação, isso exige mudança conceitual diz Prodanov. A pedagoga Jussara Biagini, do Grupo de Pesquisa sobre Formação de Formadores para o Trabalho da Universidade de Granada, na Espanha, observa que, nos últimos anos, houve um esforço do governo federal para evidenciar o movimento do ensino profissionalizante em direção à cadeia produtiva, tanto que as ofertas estão próximas das exigências do mercado.
Os cursos técnicos passaram a atrair um perfil de jovens que tiveram formação direcionada para o Ensino Superior, mas acabam no técnico em busca de uma boa colocação no mercado de trabalho. O ensino técnico se tornou cada vez mais acadêmico e elitizado. O arranjo atual tira do processo aquele que está na base da cadeia produtiva, que não se reconhece nesse processo de formação observa Jussara.