Queda de competitividade das empresas contribui para redução das exportações

Empresas e economistas afirmam que, além da crise econômica internacional e do câmbio valorizado, alto custo de se produzir no país leva à perda de mercados externos

"A gente corre contra a maré 24 horas por dia", desabafa a gerente de exportação da empresa de calçados Dakota, Nelci Schildt, ao relatar as dificuldades que tem enfrentado para exportar. Encerrado o primeiro trimestre, ela não vendeu um par de sapatos sequer no seu principal mercado lá fora, a Venezuela. A preocupação de Nelci na fábrica da Dakota em Nova Petrópolis, na região serrana do Rio Grande do Sul, se materializa em Brasília nos números frios da balança comercial.

Segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a conta de comércio do país registrou, nos três meses iniciais do ano, um déficit acumulado de US$ 5,150 bilhões, com exportações de US$ 50,839 bilhões e importações de US$ 55,989 bilhões. É a primeira vez que isso ocorre para o período desde o longínquo 2001.

Boa parte do pífio desempenho das vendas externas brasileiras se deve à persistente crise econômica internacional, que esfriou a demanda e estreitou os mercados. Outra explicação é a valorização cambial. Um terceiro e importante componente, contudo, é interno. Está na carga tributária elevada e numa legislação de impostos complexa, no excesso de burocracia do aparato estatal, nas deficiências da infraestrutura, no alto custo da mão de obra, devido a leis trabalhistas anacrônicas.

"Nossas exportações perderam substância em valor, volume e no número de empresas exportadoras" – Roberto G. da Fonseca

PERDA DE SUBSTÂNCIA - Estes gargalos são alguns dos males do chamado Custo Brasil (veja infográfico ao final do texto), que reduzem a competitividade das empresas e, portanto, o poder de concorrência, acarretando a perda de mercados externos e mesmo internamente, pela maior concorrência dos produtos importados.

Concordam com o diagnóstico a executiva Nelci Schildt e o economista Roberto Gianetti da Fonseca, um dos maiores especialistas do país em comércio exterior, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "A tributação na cadeia produtiva dos calçados é muito alta, elevando nosso custo de produção", depõe Nelci. "Nossas exportações perderam substância em valor, volume e no número de empresas exportadoras", atesta Gianetti.

As estatísticas confirmam as afirmações do diretor da Fiesp. As exportações brasileiras caíram 5,3% entre 2011 e 2012 - de US$ 256 bilhões para US$ 242,6 bilhões no ano passado. O superávit da conta de comércio, que fora de US$ 29,8 bilhões em 2011, recuou para US$ 19,5 bilhões em 2012, um declínio de 34,7%. Mesmo baseadas em commodities, que têm pouco valor agregado, as vendas para o maior mercado do Brasil, a China, também caíram entre um ano e outro, em 7%. Foram reduzidas de US$ 44,3 bilhões em 2011 para US$ 41,2 bilhões em 2012.

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